DEFENDO a construção de um Memorial para Tomé de Souza

Tasso Franco
08/10/2013 às 09:11
Defendo com todas as letras a construção de um memorial para abrigar os restos mortais de Tomé de Souza, o militar português a quem o rei de Portugal, dom João III, confiou a missão de comandar o primeiro governo geral do Brasil, em 1549, e construir a cidade fortaleza de Salvador. É claro que a tarefa de erguer a cidade não coube apenas a Tomé e méritos existem e muitos para o mestre-de-obras Luis Dias, este tão esquecido da memória local quanto outros ilustres personagens, mas, coube a Tomé, a liderança do processo por ser o governador geral, cargo que se equivale aos dias atuais a presidente da República.

   Dizer que Tomé não gostava de Salvador como apontou a presidenta do IGHB, Consuelo Pondé de Sena, tem sentido, porém, não lhe tira os méritos de ter erguido a planta matriz da cidade e de ser um governador de paz, cujas tropas sob seu comando não cometeram barbáries com os nativos tupinambás, ao contrário do que aconteceu com o segundo mandatário Duarte de Souza e seu filho, o devasso, atormentador das tupinambás e desafeto do bispo Sardinha.

   Tomé de Souza era um militar de carreira, nobre de escol da corte e cumpriu uma missão das mais espinhosas. Só atravessar o Atlântico, o Mar Tenebroso, em embarcações a vela sem gps e na base de orientação astrolábica das estrelas já era um feito notável, e se instalar num local sem a família, sem a esposa e filhos. Era, de fato, para não se gostar mesmo do local. Importante, no entanto, é que Tomé cumpriu sua missão e muito bem, tanto que instalou a cidade e fincou as bases da colonização portuguesa oficial no Brasil, 48 anos depois da descoberta da Baía de Todos os Santos na expedição de Conçalo Coelho, em 1501, área cartografada por Américo Vespucio.

   Importante, portanto, que a cidade homenagei Tomé, o qual tem seus restos mortais depositados em Vila de França de Xira, Portugal, sem o menor destaque, e foi visitado recentemente pelo idealizador do projeto, advogado Ademir Ismerim, o qual conta com o apoio da Prefeitura e já existe uma comissão analisando a questão na Fundação Gregório de Mattos.

   Em Geral, as cidades prestaram homenagens aos seus fundadores, aos seus benfeitores, coisa que não acontece com Salvador. Estão aí esquecidos Diogo Álvares (Caramuru), Francisco Pereira Coutinho (1º donatário), Luis Dias, Manoel da Nóbrega, Tomé de Souza, Duarte da Costa, Mem de Sá, Catarina Paraguaçu, Américo Vespúcio, Garcia D'Ávila, Pero Sardinha, enquanto isso se espalhavam pela cidades avenidas com nomes de Castelo Branco, Ademar de Barros, Costa e Silva, Dr Paterson, Anita Garibaldi, Vasco da Gama, personalidades que pouco têm a ver com a história da cidade.

   Nesse aspecto, o Rio de Janeiro, que teve os primórdios de sua fundação iniciada com uma visita de Tomé de Souza, em 1552, mas, só foi fundada por Estácio de Sá, em 1565, já na conquista contra os franceses, é pródiga em homenagear seus benfeitores Estácio (um bairro), a princesa Isabel (outro bairro), dom Pedro II, a princesa Leopoldina (outro bairro), personalidades que são intensamente cantados e reverenciados durante os carnavais a maior festa da cultura popular brasileira com destaque internacional.

   Daí que, nada mais justo do que uma homenagem a Tomé de Souza com um memorial no centro da cidade, não necessariamente onde se encontra a sede da Prefeitura, mas, em área adjacente (o cocurute da Ladeira da Montanha está lá vazio) e a encosta do Palácio Rio Branco pode abrigar um projeto futurista, o que seria de grande importância para a cidade.

   Um memorial vivo, um museu com a história da cidade, investimento de grande porte, o que Salvador carece e muito. Na época da administração Imbassahy chegou a analisar a possibilidade de construir um Guggenheim, exatamente no topo da Ladeira da Montanha com Gameleira, mas, a ideia morreu por falta de recursos. Ora, mas, se há recursos para tanta maluquice, como diria Vavá Lomanto, "recursos não faltarão" se houver uma boa ideia e um bom projeto. E esse de Tomé é muito bom.

HISTÓRIA

Descendente de Martim Afonso Chichorro, filho bastardo do prior de Rates, João de Sousa, e de Mécia Rodrigues de Faria. Na História Genealógica da Casa Real Portuguesa, tomo XIV, página 1, sobre a origem dos Chichorros diz-se: «Qual fosse a dama em quem el-rei teve este filho, se nos oferece grande dificuldade de o saber» - D. Martim Afonso Chichorro. Tampouco se sabe a origem do apelido. Este Martim Afonso era rico-homem e teve o governo de Chaves.

 A sua última memória é a doação do rei, em 12 de novembro de 1290, à Ordem de Avis, da Igreja de Santa Maria do Castelo de Portalegre. Casou-se com D. Inês Lourenço de Sousa (de Valadares), filha de Lourenço Soares de Valadares, senhor de Tangil, fronteiro-mor de Entre Douro e Minho, e de sua mulher D. Maria Mendes de Sousa (c. 1230 -?), filha de Mem Garcia de Sousa (1200 - 1275), rico-homem, e de D. Teresa Anes de Lima, em que estava a primogenitura dos Sousas. Martim Afonso Chichorro é o tronco da família dos Sousas da Casa dos Marqueses das Minas.

Tomé de Sousa foi o primogênito de João de Sousa, que seguiu vida eclesiástica, sendo «abade de Rates, sete léguas acima do Porto, onde viveu com bastante dissolução, e pouca memória do seu estado, porque de Mécia Rodrigues de Faria, mulher nobre dos Farias de Barcelos», teve mais de dez filhos (Tomo XIV, obra acima citada, página 249).

Em Rates, Tomé de Sousa foi o primeiro titular da comenda da Ordem de Cristo em 1517, após a desorganização do mosteiro de Rates. Foi comendador de Rates e de Arruda.
Vida militar[editar]
No exército participou de questões internacionais: «Serviu em África, sendo Capitão D. João Coutinho, e se achou com D. António da Silveira quando pelejou com o rei de Fez e desbaratou ao alcaide de Alcácer-Quibir, tomando cinquenta cavalos, deu sobre a aldeia de Gens, que destruiu, matando muitos mouros e cativando outros» (obra citada, página 251). Recebeu em Arzila, recebendo em recompensa, em 1535, o título de fidalgo.

A fim de consolidar o domínio português no litoral, a 7 de Janeiro de 1549 Tomé de Sousa foi nomeado como primeiro governador-geral do Brasil, recebendo Regimento para fundar, povoar e fortificar a cidade de Salvador, na capitania real da Bahia. Manteve-se no cargo até 1553, sucedido por Duarte da Costa. Após seu mandato como governador-geral, em 1553, retornou a Portugal onde ocupou outros importantes cargos públicos.

Diz a obra citada, página 251: «No ano de 1555 passou à Índia, por capitão da nau Conceição, sendo capitão-mor Fernão de Andrade», mas o ano mencionado está errado, pois o autor se diz que voltou ao Reino e no ano seguinte «foi mandado por governador e capitão-general do Brasil» para onde embarcou no 1º de fevereiro de 1549».

De acordo com algumas fontes controversas, era o pai de Garcia d'Ávila.