COMUNICAÇÃO: Virou mania em textos e falas a expressão "em processo"

Tasso Franco
23/09/2013 às 12:22
 A linguagem jornalística tem uns vícios que são antigos e outros que aparecem no decorrer dos anos, ninguém seria capaz de explicar o porquê dessas inovações que, de fato, não servem para nada exceto florear o texto, sem acrescentar algo de significativo ou explicativo.

   Há, todos nós do mundo das comunicação sabemos, os chamados "narizes de cera" ou textos introdutórios à matérias que não dizem absolutamente nada, salvo, um eruditismo piegas.
   
   Ainda hoje, entre os vícios clássicos são utilizados em profusão: "nesta oportunidade", "na ocasião", "no entretanto", "contudo", "fez questão de visitar", "durante a cerimônia", etc, que não servem para nada e são emblemáticos. 

   Isso sem falar na "praça total reformulada" ou no "posto de saúde completamente reformado", como se alguma prefeitura iria reformar uma praça e deixar a metade sem fazer. Já chega o "bom dia para todos" ou mais bobealógico "bom dia para todos e para todas" como se existisse "bom dia para poucos". Bom dia é bom dia e só.

   Atualmente, virou uma mania colocar a expressão "em processo", "o processo" para designar uma matrícula, um concurso, um edital e assim por diante. Processo vem de "procedere", do latim, verbo que indica uma ação de avançar, um conjunto sequencial, e, portanto, não deve ser usado à toa só para emoldurar uma circunstância; 

   Veja o que dizem esses releases: - A Prefeitura de Jequié, por meio da Secretaria de Relações Institucionais e Comunicação informa que está aberto o processo de credenciamento..."; No momento em que assistimos ao processo de globalização do terrorismo..."; "Aldo se irrita com o processo de maquiagem nos estádios de futebol para a Copa das Confederações...", "O processo de independência do Brasil não foi tão simples. Na Bahia houve guerra...";  e até a manchete de um jornal local: "Projeto auxilia processo de alfabetização".

   Ora, a Prefeitura de Jequié poderia dizer através do Decom que "está aberto o credenciamento"; assim como o correto é dizer-se: "assistimos a globalização do terrorismo"; e/ou "Aldo se irrita com a maquiagem dos estádios; "A independência do Brasil não foi simples..."; e a manchete deveria ter sido: "Projeto auxilia a alfabetização". 

    Veja, portanto, que a expressão "processo" utilizada nesses exemplos acima não servem para nada, salvo para mostrar uma "erudição" vazia.

   Agora, quando se diz que o Museu Nacional da Cultura Afrobrasileira, aquele de Capinam que nunca termina, aí, sim, pode-se dizer que está em "processo de montagem". Ou seja, indicando uma ação de avançar, de conquistar mais peças, de terminar a obra física.
Quando se diz que a diretoria do Sindicato dos Servidores do Poder Judificário vem "por meio desta, esclarecer acerca do processo eleitoral" também admite-se, pois, ainda está em andamento uma provável eleição. Mas, poderia ser mais simples: "Esclarecer acerca da eleição".

   Quando se expressa que o programa Rota do Chocolate vai permitir ao visitante passear pelas fazendas de cacau, acompanhando todo o processo de coleta do produto", pode abreviar para "acompanhando a coleta do produto". A coleta é única. A industrialização é subsequente.

   Há, portanto, muita firula e bobagens sendo ditas em nome do tal "processo". Dizer-se que algo está em "processo de montagem" ou em "processo de renovação" para explicar que uma peça de teatro está sendo montada ou que na politica estaria ocorrendo uma renovação, não têm o menor sentido. 

   Mas, quem sou eu para acabar com esses vícios da linguagem jornalística, agora, então, que a difusão da informação está na rede Web com muita gente escrevendo sem o menor cuidado com o texto.