BONO VOX, "Dendês no Sangue", o amor a Bahia e a seca

Tasso Franco
23/04/2013 às 14:32
 Cunhei a expressão "Dendê no Sangue" para definir algumas personalidades e artistas baianos y produtores de outros estados, os quais, juram "amar a Bahia", "adorar a Bahia", mas, só na época do Carnaval. No máximo, sendo benevolentes, no período verão/carnaval. 

   Passado o Momo, já na quarta-feira de cinzas, antes mesmo que o arcebispo primaz proceda os sinais da cruz com cinzas, já retornaram ao Sul do país e só voltam a Salvador, no carnaval seguinte.

   Bem, se houver um torneio de golf no Extremo Sul, lá pras bandas de Trancoso/Porto Seguro, podem dar uma passada; assim, como, alguns deles frequentam o inócuo encontro de Comandatuba/Ilhéus, o tal do PIB nacional reunido, que não produz nada, porém, provoca uma marola enorme. 

  No mais, Bahia, nem pensar. Semiárido só resolve uma boma A.

   Seriam essas pessoas, os tais "Dendês no Sangue" aproveitadoras da boa fé e hospitalidade dos baianos? 

   Os indicadores são em torno do sim. Ganham bastante dinheiro durante o Carnaval onde aproveitam para azeitar seus lobbies, trazem artistas globais y outros, reforçam seus amores a Bahia com fitas do Senhor do Bonfim nos pulsos, fazem declarações de respeito e adoração ao candomblé, citam mãe Menininha com a maior desenvoltura, enrolam todo mundo afirmando que os afros são belos, formosos, dizem que vão fazer investimentos na Bahia, e nada acontece, nem uma fabriqueta de carrinhos de pipocas montam.

   Agora, veja o seguinte: a Bahia passa por um período de seca devastadora e mais de 200 municípios se encontram em estado de calamidade pública, apesar dos pingos de chuvas que caíram nos últimos dias. 

   Portanto, se esperava que houvesse um mínimo de solidariedade dos "Dendês no Sangue". Mas, nada de apreço acontece, nem uma palavrinha de amor a Bahia aparece na midia.

   Bem que esse pessoal poderia fazer um show beneficente para ajudar determinada comunidade. Claro que não se vai beneficiar a todos. Mas, se atenderia a alguma comunidade e, mais do que isso, registrava-se a simbologia da gratidão e um apreço ao povo sofrido da Bahia estaria configurado. 

   Os artistas internacionais fazem isso com frequência em relação a África. Bono Vox, que é miliardário, tem dado essa contribuição.

   Bono é amplamente conhecido por seu ativismo relativo a África, para o qual ele co-fundou DATA, EDUN, a ONE Campaign e Product Red. Organizou e tocou em vários shows beneficentes e se reuniu com políticos influentes. Bono tem sido elogiado e criticado por seu ativismo e envolvimento com o U2. Mas também promove e investe em sua Dublin (Irlanda), onde nasceu, ganhou fama e tem um hotel. 

   Os "Dendês", no entanto, estão na toca, calados, esperando o próximo verão/carnaval para ressurgirem as cinzas com novas juras de amor a Bahia e aos baianos.

   E como essa terra, assim diria o cego Aderaldo, é de "muro baixo", vai-se se agradando e endeusando essa galera a cada ano.
 A onda camarotizada do Carnaval de Salvador, em parte, além daquela ativista de arque que puxou a fila, se deve a essa gente. A cultura carnavalesca baiana foi para o espaço e privilegiam-se longues, boites, salões de beleza, shampoos e marcas de empresas de toda ordem. 

   Não existe mais um camarote vermelho & preto, nem um camarote tricolor; e sim camarote da cerveja, camarote da indústira de cosmético, camarote da pomada, camarote do charuto, camarote do banco tal e assim por diante.

   Até o governo do estado embarcou nessa com balões e mais balões à frente desses blocos mercantilistas. E, claro, quem comanda uma parte dessa galera são os "Dendês no Sangue" com suas forças e manipulações na midia e ações subsequentes. 

   Se alguém me apontar o investimento de um desses "Dendês" na Bahia, nem que saiba numa fábrica de picolés, visto-me de baiana e subo a colina do Bonfim de joelhos.